" 'Aqui não há manigâncias. Tudo ao Natural.' Arremangado, bonacheirão, o proprietário da casa assinala a verdade atestada pelos comensais. Manuel Pinto Pereira, o senhor Manuel, abeira-se da clientela, exalta comedorias, indaga sobre a sua beleza, o seu sabor. Amistoso, jamais pegajoso. Abraça lems sacramentais que a cozinheira, sua mulher, Maria de Fátima, abençoa em redor de delícias da mastigação. (...)
Afectuosa, a clientela vai dando entrada no aconchego tracejado de bengalas de Gestaçô identificando a costela duriense dos anfitriões. E nas mesas, para a gala do olhar e do adentar, poisam favas à portuguesa, bacalhau à lagareiro e à lavrador, tenro polvo à lagareiro, posta à mirandesa, cabrito de Armamar (pois claro!) e uma variedade de peixe fresco. Diariamente, Tripas à Moda do Porto, abundança por cinco vezes premiada no respectivo concurso.
'Gostamos de tratar as pessoas pelo seu nome', diz o senhor Manuel, agora com o olhar refastelado na sopa à lavrador, autêntica, substancial, 'porque não mentimos ao cliente. Isso seria o mesmo que mentir a nós próprios'. (...)
'Gostamos de fazer surpresas. A minha mulher, de Mesão Frio, herdou da família o dom da cozinha regional'. Sabendo que é um caldo de cultura associado a experiências apreendidas durante anos de emigração. (...)
Porque o trunfo é a qualidade, importante é 'ir ás mesas' de consciência tranquila. A Maria de Fátima cozinha 'como se fosse para a família'. (...)
Glória ao azeite de oliva que toda a maleita tira. Honra à verdade que vem ao de cima."